A beleza da loucura

Sabe aqueles dias que são mais difíceis que alguns?  Como por exemplo, o dia que você perde o emprego, ou termina um relacionamento, ou recebe um diagnóstico desanimador do seu médico, ou é assaltado... acho que já deu pra entender né?
Pois bem, estava em um dia desses, após sair de um consultório médico.  Vinha caminhando por uma avenida que há alguns anos antes era repleta de árvores enormes, frondosas e que davam ao lugar um ar meio mágico, como se fosse cenário de algum filme da Disney. Mas infelizmente a maioria delas foram cortadas por estarem doentes. Restaram só os troncos, largos, com aquele tom cinza, sem vida, como se no lugar onde seus ramos saíam e se dividiam, agora fossem como braços abertos, esperando um abraço de quem passasse por elas. 
Estavam infestadas por cupins, foi essa a justificativa que deram.
Me peguei com lágrimas nos olhos e por um momento fiquei imaginando: e se fizessem o mesmo com seres humanos? Se quando adoecêssemos nos cortassem para garantir a segurança de todos?
E para minha tristeza cheguei a conclusão que infelizmente muitas pessoas são "cortadas" por estarem doentes. Pessoas que vemos em situações de abandono em hospitais, asilos, orfanatos. Pessoas excluídas por colocarem em risco a vidas das outras pessoas "sãs".
Quiz muito abraçar uma daquelas árvores e ficar chorando com ela um pouco, mas tive medo de me chamarem de louca e também de ser assaltada por outras pessoas "sãs" que estavam me observando.
Segui em frente, peguei o ônibus, frustada por não ter dado o abraço.
Alguns minutos depois, quando o ônibus passava por uma avenida onde muitas pessoas fazem caminhada e exercícios físicos para manterem a boa saúde, observei com alegria que "ele" estava lá, mais uma vez. Um homem que sempre vejo e que sem saber me arranca sorrisos. Tenho a impressão que ele mora lá, pois independente da hora que eu passe por ali sempre o vejo, do mesmo jeito, rodeado de cães, Não o conheço, nem ao menos sei o seu nome, mas costumo imaginar que ele saiu da página de algum livro. Ele se parece com um daqueles personagens do antigo testamento misturado com o  Rambo.  Cabelos longos, barba comprida,  fita amarrada na testa, as vezes com camisa, as vezes sem, meio magro. Seus movimentos são muito engraçados e espontâneos e por isso me faz rir, mesmo que eu não queira.
Dessa vez ele me surpreendeu ainda mais. Havia amarrado o cachorro em uma árvore e estava se escondendo atras de outra, como se estivesse brincando de esconde esconde com o cão. Hora aparecia para ele, hora se escondia. O melhor de tudo era a cara do cachorro, que olhava pra ele como se achasse aquilo uma maluquice.
De repente eu me peguei dando risada sozinha dentro do ônibus, sem me preocupar com o que as pessoas pensariam. Acho que me inspirei nele, que parece não se importar nem um pouco com isso. Simplesmente é feliz do seu jeito.
Apesar de não conhecê-lo eu o admiro. Admiro sua simplicidade, sua forma de ser, mas acho que admiro ainda mais sua loucura.
Quisera existirem mais seres humanos assim...
Quer saber de uma coisa? Me arrependi muito de não ter abraçado aquela árvore. Mas felizmente terei oportunidade de fazer isso na próxima semana, quando voltar lá.
E quer saber outra coisa? Tomara que eu consiga arrancar sorrisos de alguém também, que estiver me observando e tomara que esse alguém consiga enxergar a beleza da loucura de ser feliz, sem se importar com o que os outros vão pensar dele!


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