Muros

Noite fria, o vento sopra lá fora assobiando uma canção como se quisesse me dizer algo. Saio para fora para tentar descobrir o que é, fico em silêncio e percebo o barulho das folhas batendo contra o muro, imagino que tinham a intenção de conseguir despertá-lo, como se estivessem dizendo: "estamos aqui... olhe para nós, deixe essa rigidez de lado e venha dançar conosco!"
Observo essa dança frenética, acompanhada da lua cheia que ilumina tudo ao nosso redor. 
Bela noite! Apesar de muito fria! Me agarro ao cobertor que enrolei em volta do meu corpo e resolvo entrar na dança para me esquentar um pouco. Começo a girar e me vejo dançando com as folhas, giro tanto que chego a ficar tonta e vou de encontro ao muro, ele me segura me impedindo de ir  ao chão. Fico parada ali por alguns instantes com a respiração ofegante e de repente começo a sorrir e agradeço ao muro por ele estar ali.
Percebo então que o vento cessou, as folhas se aquietaram e só restamos eu e o muro, um de frente para o outro, confesso que esperei que ele me dissesse algo em troca, mas ele preferiu ficar calado. Aproveitei esse momento de silêncio pra escutar muita coisa que tenho sentido nesses últimos dias e que compartilho aqui agora com vocês...
Durante toda nossa vida vivemos experências que vão nos transformar na pessoa que somos. Isso faz com que às vezes olhemos para trás e tenhamos dificuldades em acreditar que tomamos certas decisões ou seguimos tal caminho, ou nos envolvemos com algumas pessoas, mas acredite, decisões são tomadas de acordo com as nossas crenças, nossas limitações, nossa consciência naquele momento que estamos vivendo, ou seja, o que somos capazes de fazer ali, então, não se culpe por isso.
Quem nunca acreditou em algo em determinado momento da sua vida e deixou que essa limitação impedisse de agir de modo diferente do que realmente queria? Um exemplo bem idiota, mas que aposto que a maioria já passou por isto: "se seu chinelo ficar virado sua mãe morre!", quem nunca correu para desvirar o chinelo com medo de perder a mãe, levanta o dedo! (na dúvida... rsrs, principalmente que agora a mãe sou eu).
Medos são ensinados de geração em geração, temos uma facilidade enorme em aprendê-los, isso não acontece por maldade, os pais agem assim tentando nos proteger, mas acabam criando traumas, sem perceber o que estão fazendo e assim criamos  um ciclo vicioso.
Brigamos tanto, com tantas pessoas durante nossa caminhada aqui nessa terra, como se estivéssemos em guerra constantemente. Guardamos mágoas idiotas dentro dos nossos corações que só trazem peso e doenças para o nosso corpo. Nessa batalha ficamos procurando achar sempre o culpado de uma situação, quando na verdade, deveríamos entender que temos participação em tudo que acontece.  Diante da morte toda essa podridão perde o sentido, todo o orgulho é imbecil e toda vaidade indispensável, isso chega a ser ridículo, somos ridículos, muito ridículos!  
Temos que aprender que cada pessoa que encontramos nessa caminhada vai agir conosco de acordo com o nível de consciência que ela tem naquele momento específico, com todas as suas limitações e cabe a nós a decisão de permanecer ali ou ir embora. Caso você não tenha força para ir quando precisar, peça ajuda, mas vá!
Há dignidade em aprender com nossos erros, lembre-se disso.
Ainda estou aqui, olhando para o muro. Digo a  ele que é bom não sentir mais raiva e nem mágoa de pessoas com as quais vivi experiências na minha jornada. Hoje entendo que elas fizeram o melhor que elas podiam fazer naquele momento e que de alguma forma foram instrumentos para me ensinar o que eu precisava aprender. Sou grata a cada uma delas.
Volto a sorrir para o muro, apesar dele não poder sorrir de volta por ter suas limitações também, mas percebo que isso não o impediu de estar ali e cumprir o seu papel na minha vida, naquela noite fria, me segurando, quando era isso que eu precisava.
E você... me diga...você sabe do que precisa agora? Nesse exato momento? Que tal ir conversar um pouco com os seus muros? Heim?





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