Cidade dos anjos

Como seres humanos nos acostumamos com as coisas que nos cercam, com as pessoas, com os nossos sentimentos, acostumamos com os nossos hábitos, desde o levantar, o lavar o rosto, as refeições, o trabalho, o amor, o desamor. Vivemos como se estivéssemos no automático, tanto é que há momentos que nem lembramos se já fizemos ou não alguma coisa que estava na nossa agenda, precisamos parar e refazer os nossos passos para ter certeza.
É bom quando um personagem sobrenatural de um filme aparece para te mostrar isso de uma forma muito simples, que faz você parar um momento e dizer: Como posso não ter percebido isso no meu dia? Assistindo ao filme Cidade dos anjos, interpretado por Nicolas Cage e Meg Ryan, onde Cage interpreta um anjo que está na terra cumprindo sua função. Ao buscar um paciente de Meg Ryan na sala de cirurgia em que Meg tentava salva-lo desesperadamente, sem obter sucesso. Meg se descontrola por não compreender o motivo da morte do paciente, pelo fato da cirurgia ter sido um sucesso. Naquele momento ele olha nos olhos da moça e vê algo diferente, algo que os humanos sabem muito bem o que é quando olhamos alguém nos olhos e por um breve momento nos perdemos dentro daquele olhar. Inevitavelmente ele se apaixona por ela, começando assim uma sucessão de encontros que vai direcioná-lo a tomar uma grande decisão, mas isso vou deixar para você que ainda não teve o prazer de assistir ao filme, descobrir sozinho.
O que quero tratar aqui não é do romance entre esses dois seres com uma realidade tão distante, mas sim do que me chamou mais atenção no filme, o fato do anjo não saber como é sentir coisas simples que nós meros seres mortais sentimos, ou seja, sentir o sabor dos alimentos, a água do mar, o frio, o calor, a dor e o toque da sua amada em seu corpo. Como anjo ele não podia sentir nada disso e fica completamente encantado observando como somos privilegiados, só que não nos damos conta, até perdemos esse privilégio.
É interessante como ele pede para sua amada descrever o sabor de uma pera e a forma como ela descreve em palavras me fez saber bem próximo como seria o sabor de uma, caso eu nunca estivesse experimentado. Palavras tem um grande poder de dar vida as coisas, mas também tem o poder de tirar essa mesma vida, depende de como as usamos, por isso é tão importante aprender usar as palavras, para através delas levarmos vida e não morte.
Interessante o fato de no filme os anjos habitarem numa biblioteca, onde eles ouviam os seres humanos lendo todos os tipos de histórias e se encantando com elas, é fantástico isso, os livros tem esse poder de nos levar a lugares que nunca poderemos ir e experimentar sensações nunca antes sentidas. Quem se identifica com os livros vai entender o que quero dizer, como o ambiente de uma biblioteca nos transporta a lugares deslumbrantes e nos apresenta pessoas incríveis que teríamos um grande prazer em conhecê-las se isso fosse possível.
Precisamos aprender novamente a sentir o sabor dos alimentos como se fosse a primeira vez . Como é bom a sensação de poder se refrescar no calor e se aquecer no frio, já imaginou se isso não existisse? Se não fizesse diferença e o clima fosse sempre o mesmo? Já se jogou no mar e deixou que as ondas te levassem a um lugar que só você imaginou? Já teve o prazer de amar alguém e poder sentir esse amor através de um simples toque na sua pele, que fizesse você arrepiar dos pés à cabeça, sinceramente, acho que não tem sensação melhor!
Poder sentir, sentir e sentir acho que está aí um dos sentidos da vida! Fomos presenteados com esse dom, e não podemos abrir mão disso, não podemos deixar que os acontecimentos da vida nos tornem insensíveis. Não espere um anjo ter que te mostrar isso, abra seus olhos para o que te cerca, sorria mais, ame mais, sinta mais...



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